terça-feira, 13 de abril de 2021

Aquela manhã gelada!


Caros amigos leitores!
Apresentamos um Conto, de nossa autoria, intitulado:

Aquela manhã gelada!

Encontra-se registrado na 47ª Revista Divulga Escritor - 

Revista Literária da Lusofonia, 
coordenada por 
Shirley Cavalcante.


aquela manhã gelada 

Sábado, sete horas, uma manhã congelante! Estava nevando.

Lauren ainda dormia, quando aos poucos acordara, ouvindo crianças falarem. Ou melhor, gritarem —  Tia... tia...tia...

­ Pensou Só posso estar sonhando, a esta hora da manhã e num frio destes, não haverá criança nenhuma perambulando pela rua. Todas, com certeza, estariam em suas casas, aconchegadas em suas camas. Mas o chamado continuou ­—  Tia... tia... tia...

Lauren levantou e espiou pela janela para certificar-se de que ouvira vozes infantis chamando-a. Para seu espanto, eram duas meninas que moravam próximo a sua casa.

Lauren trabalhava no escritório da empresa da família. Saía cedo de casa e voltava somente à noite, tendo pouco contato com os vizinhos. Porém, havia trabalhado muitas sobre-horas durante a semana e conseguiu uma folga naquele sábado. Estava felicíssima em poder ficar um pouco mais na cama, curtindo o conforto, naquela manhã gelada. Mas após ouvir os insistentes chamados, enrolou-se em uma coberta e foi ver o que estava acontecendo. Chegando ao portão lateral de sua casa viu as duas meninas com as mãos e os pés roxos e congelados, perguntando se poderiam apanhar algumas frutas do pomar de Lauren, pois estavam com muita fome.

Lauren consentiu que colhessem as frutas, mas não conseguiu deixar que as crianças fossem para casa, sem tomar um café quentinho e bem enroladas em um cobertor, para se aquecerem. Suas mãos e seus pés estavam duros de tanto frio. Mal conseguiam segurar as frutas. Lauren colocou-as em uma sacola para que pudessem levá-las. Após tomarem o café quentinho e saborearem um lanche, Lauren conduziu-as para casa.

Estas visitas em horas inesperadas repetiram-se inúmeras vezes e a amizade consolidou-se. Dialogando com as crianças, Lauren descobriu que havia mais irmãos pequenos em casa.  O pai as abandonara e a mãe lutava para sobreviver com cinco crianças pequenas. Não tinham cama e nem agasalhos que os aquecessem. Buscavam abrigo na casa dos vizinhos, durante a semana e nos finais de semana na casa de Lauren.

Após longa conversa com as meninas, Lauren perguntou se aceitariam tomar um banho para cuidar de seus corpinhos tão necessitados de atenção, pela falta de higiene, que já estavam fazendo pequenas feridas nos braços, pernas e na cabeça. Não penteavam-se com medo de que a cabeça pudesse doer. E o banho era um terror para elas. Poderia machucar os ferimentos em seus membros inferiores e superiores. Porém Lauren foi falando durante vários dias, até as meninas concordarem. Tarefa nada fácil. Estavam há tempo sem fazer uma assepsia em seus corpinhos.

Antes do acordado banho, Lauren foi a uma loja de tecidos e comprou flanela em metro e lã em fio, para tricotar casacos, meias, toucas, xales e a flanela para costurar saias de pregas as suas lindas meninas. Em pouco tempo tudo ficara pronto e muito bonito. Lauren provara que o curso de corte e costura havia valido a pena. Estava exuberante com seus feitos e a sua arte! Mal podia esperar que chegasse o tão sonhado sábado, para mostrar as suas amiguinhas o seu labor.

Era sábado e o dia amanheceu com um sol esplendoroso!

Lauren levantou cedo, fez café, preparou o lanche de suas amiguinhas, Keity de 6 anos e Heidy de 5 anos. Fechou as janelas da lavanderia, acendeu o fogo no fogão à lenha, encheu o taxo de água até a borda, lavou com todo o cuidado os tanques de lavar roupa, colocou uma toalha de banho felpuda no fundo dos tanques e preparou o banho das princesas. Sim, seriam as suas princesas, de agora em diante. Tomaram banho no tanque de lavar roupas, por ser mais confortável, ficarem sentadas e brincarem na água quentinha. Enquanto uma tomava banho, a outra lia um livrinho infantil.

O banho de cada menina demorou uma hora, pois os cuidados eram muitos, para evitar machucá-las. O maior problema era lavar as suas cabeças. Mas Lauren, sabendo da complexidade com a higiene, convidou sua mãe - enfermeira - para ajudá-la com os curativos, após o banho.

Passadas duas horas de dedicação com banho, curativos e vestir as meninas, Lauren ficou emocionada com a beleza que observava a sua frente. Realmente duas princesas. Que lindas ficaram, em suas saias de pregas, casacos, toucas, meias e xales de lã, limpas e penteadas!

Lauren tinha vontade de adotá-las, pois não tinha filhos. Serviu um café e conduziu-as para casa. Lá chegando, a mãe das meninas quase não as reconheceu, tão lindas estavam!

As visitas aos sábados continuaram por muito tempo. Aos poucos Lauren organizou-se e foi em busca de camas e agasalhos para os irmãozinhos das meninas. Ficou felicíssima com a compreensão e a ajuda dos amigos que auxiliaram a reunir os itens necessários, para que todas as crianças desta família recebessem aconchego e alimentação. As crianças foram encaminhadas a jardins de infância, mais tarde para as séries iniciais do Ensino Fundamental e a vida prosperou lenta, de acordo com as possibilidades.

Um dia, para a surpresa de todos, a família foi embora. Os anos passaram, sem comunicação entre a família e Lauren. Esta ficou por muitos anos, sem notícias das amadas princesas.  Sentia-se triste, pois havia se apegado às crianças, com muito carinho.

Os anos passaram. Lauren experienciou a alegria da maternidade. Nasceram três filhas. Dedicou-se por longos anos à Educação e à Cultura. A vida lhe proporcionara múltiplas experiências.

Eis que um belo domingo, toca a campainha de sua casa e para a surpresa de Lauren, esta se depara com a família conhecida! Tomou um choque! Ficou sem palavras! Eram as meninas, agora já mulheres, parecendo muito bem conduzidas na vida, a mãe e o companheiro, e os meninos, agora homens. Para surpresa maior, vieram convidá-la para ser madrinha de casamento do filho mais novo da família. Lauren chorou de alegria! Quando poderia imaginar uma surpresa tão agradável tão e feliz!

Aceitou o convite e, no dia do casamento, estava lá deslumbrada e ofuscada pela emoção, por tudo o que pôde presenciar e vivenciar!

A festa de casamento fora maravilhosa, mas, o que mais a emocionou, foi a união e a integração daquela família! Saiu de lá feliz e agradecida! Muito agradecida! Havia recebido um grande prêmio! Constatar a felicidade das crianças que um dia a tiraram do seu aconchego e lhe ensinaram a ser solidária, fora muito, muito bom!

Lorena Zago - Presidente Getúlio – SC




 


 

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