sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A Lenda da Cabra D'Água




                                A Lenda da Cabra D’Água! 
                                               Lorena Zago                                   

         Certa vez, há muitos anos, havia uma Cabra D’agua que vivia em meio às enormes pedras do rio, cujo leito perfilava numa cidade do interior de nome Águas Claras. Moravam neste vilarejo muitas famílias de agricultores que produziam vinho, dentre os quais a família de Frederico Soares.
          Nos meses de janeiro, fevereiro e março a alegria tomava conta da casa dos Soares.
          As férias escolares dos netos de Frederico eram destinadas a dias alegres e cheios de diversão. Uma das maiores alegrias para a criançada era tomar banho de rio, acompanhadas do amado vovô Frederico. O que não dispensava as outras benesses que o vovô tão bem distribuía durante os sete dias da semana. Todas somavam os melhores momentos do período de férias da criançada. O lazer era distribuído entre passeios de trem, duas tardes por semana, pois vovô Frederico era funcionário da Estrada de Ferro. Tinha permissão para levar seus netos a fazer turismo.
          Outro motivo de festa era dormir no sótão da casa, onde havia seis camas com colchões de palha, fofos travesseiros e cobertores feitos de penas de ganso. As crianças disputavam as duas janelas de madeira, uma ao norte e outra ao sul, onde passavam horas admirando a paisagem, brincando e imaginando histórias. A maior atração de todas era a imensa escada de madeira, que em dias de chuva funcionava como se fosse um ônibus.  Este cenário era objeto de encanto e fantasias para as crianças, que brincavam com vovô Frederico de viajar a lugares pitorescos e inimagináveis.
         Havia também a noite da música. Sim, vovô era um dos componentes da Banda Musical Soares, que executava músicas das mais variadas, tais como: valsas, marchas, boleros, tangos, rancheiras, mazurcas, xotes, vanerões, foxtrots, sambas, jazz, entre outras. Nos dias de ensaio musical, as crianças deveriam recolher-se mais cedo, pois vovô necessitava de muita concentração. Costumava-se servir uma taça de vinho da melhor qualidade aos músicos, com o intuito de animá-los e deixá-los bem descontraídos durante o ensaio.
         Aos sábados e aos domingos à tarde, vovô e vovó Frida sentavam-se com os netos, na varanda, em frente à casa. Lá, eles conversavam, observavam o movimento e divertiam-se vendo as crianças fazendo as maiores estripulias com seus brinquedos de estimação. Os maiores jogavam dominó com os avós.
          Aos domingos, pela manhã, ouviam músicas pelo rádio. As meninas dançavam com o vovô e os meninos com a vovó, assim todos aprendiam a dançar. Aos sábados e domingos à tarde, vovó servia um delicioso café, com cuca de farofa e de bananas, que ela fazia com muito esmero. As crianças não tinham dúvidas de que estas eram as melhores cucas do Universo. Muitas vezes vinham acompanhadas de um copo de capilé.
         Ah! Esses momentos eram por demais especiais! Como eram boas as férias de verão! Inesquecíveis!
         Além das muitas brincadeiras fantásticas, havia o tradicional banho de rio. Para quem era obediente durante o dia, é claro.
         Todos os dias, às dezoito horas, após sua jornada de trabalho, vovô voltava para casa assoviando as músicas que as crianças mais gostavam e as convidava para um gostoso banho no rio que desfilava suas águas transparentes nos fundos do terreno em que a família Soares morava.
         Pedras grandes e pequenas sobressaíam das águas. Na sua transparência, viam-se as pedrinhas no fundo do rio. Era simplesmente maravilhoso aquele momento vivenciado entre os avós, os netos e as translúcidas águas do rio. Um cenário marcado, para sempre, em suas vidas! Porém, havia dias em que as crianças queriam ir ao rio sem a permissão dos avós e isso causava grandes preocupações!
            Assim, ao entardecer de um dia lindo e ensolarado, vovô sentou com os netos no barranco do rio e contou-lhes a “Lenda da Cabra D’água”. Muito curiosas e atentas, as crianças ouviram a história de uma cabrinha que vivia escondida atrás das grandes pedras do rio.  Em tom de suspense, vovô contava que ela saía todas as noites à procura de crianças para raptá-las, pois sentia-se muito triste e só. O problema é que nunca mais as devolvia aos seus pais. Sendo assim, vovô aconselhou severamente as crianças a nunca tomarem banho no rio sem o acompanhamento dos adultos.
           A narrativa foi fatal. Que horror! Muito preocupadas, as crianças conversaram durante horas, quando já recolhidas no sótão para o descanso noturno.
           Luisinha, a mais velha, teve um sonho... Debruçada na janela norte do sótão, ela vira e ouvira a Cabra D’água chamar pelas crianças. Estava sentindo-se muito só. Desejava raptar algumas crianças para fazer-lhe companhia.
            Luisinha então perguntou-lhe:
            - Oh, Cabra D’Água, por que você vive tão sozinha e infeliz?
             - Ao que a Cabra D’água respondeu:
               - Eu fui uma menina que nunca obedeceu aos conselhos dos pais e dos avós. Num dia em que eu fui sozinha tomar banho, surgiu um feiticeiro das profundezas do rio, transformando-me em Cabra D’agua e pondo-me a viver atrás das grandes pedras dos rios.  Passo frio, fome e sinto-me muito só.
              Eis que Luisinha perguntou-lhe:
          - Mas o que será necessário para desfazer este feitiço?
           Ao que a Cabra D’água respondeu:
          - Só voltarei a ser normal novamente se tomar uma garrafa de vinho da melhor qualidade.
          – Humm! - Pensou Luisinha. - Mas isso não é tão impossível assim! Haveria de pedir ao vovô Frederico que comprasse uma garrafa de vinho da melhor safra, fabricada em Águas Claras, para doar à Cabra D’água.
           Ao despertar do seu sonho, Luisinha desceu as escadas, dirigindo-se ao quarto dos avós e pôs-se a falar com seu avô, expondo-lhe o seu sonho. Após ouvi-la atentamente, vovô Frederico garantiu-lhe tomar uma atitude, desde que os netos lhe prometessem que nunca tomariam banho de rio sem a companhia de pessoas adultas e que soubessem nadar.
          Comprometeu-se, também, a ensinar os netos a nadar. E assim aconteceu. A garrafa de vinho foi comprada e deixada sobre a maior pedra que despontava das águas do rio.
          Soube-se, após algumas semanas, que foi encontrada uma menina caminhando sobre as pedras do rio, contando a cada criança a sua história.
           Deste dia em diante, as crianças respeitavam os conselhos dos pais e avós, para que nunca passassem por privações desta natureza. E as férias na casa de vovô Frederico continuavam maravilhosas! Inesquecíveis!
                                                                                                                                Margarida Lorena Zago - Presidente Getúlio - SC

                                    Lenda extraída da Coletânea "Palavras em Taças"                                                     


Imagens pesquisadas no Google.

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